Craig Venter - Este homem criou vida sintética |
por Pedro Zambon
A notícia não é recente, mas a polêmica e fascínio continuam latentes. Foi no dia 20 de Maio de 2010 que o mundo científico parou para o anúncio do Instituto Craig Venter sobre a criação de vida sintética em laboratório. O geneticista Craig Venter - o mesmo que foi responsável pela decodificação do genoma humano em 2001 - acabava de inaugurar "a nova era da ciência da criação", segundo suas próprias palavras. E assim foi igualmente inaugurada uma série de discussões acaloradas sobre o tema.
Foi necessária uma equipe de 20 cientistas liderados por Craig durante 15 anos de intenso trabalho para criar a bactéria artificial. Se você, jovem cientista, quiser repetir o feito prepare seu bolso: foram necessários U$ 40 milhões de dólares para adicionar um novo ser vivo no inventário do nosso mundo.
"Tudo começou com quatro recipientes de substâncias químicas", diz Craig, e terminou em uma bactéria Mycoplasma Genitalium (que causa uma doença em caprinos) com o núcleo composto inteiramente de um genoma fabricado em laboratório, fazendo com que a bactéria passasse a obedecer o novo genoma recebido: surgiu então um novo organismo, batizado de Synthia.
Entenda o que foi feito
Trocando em miúdos o que os cientistas fizeram foi "sequestrar" uma célula e "assumir o comando" dela, injetando ordens no "centro de comando" de qualquer organismo vivo que é o genoma. Esse tal genoma é toda informação codificada no DNA dos seres vivos. Isso significa que se você colocar informações de um genoma artificial em uma célula você estará criando artificialmente suas características.
O que não ocorreu, de fato, foi a criação de vida do zero. Para a criação da nova bactéria foi necessária uma substância natural, cujo citoplasma e substâncias ainda permaneceram. Em outras palavras, os cientistas apenas trocaram o software da célula, mas não criaram o hardware. Ainda assim esse foi um feito inédito e revolucionário para as pesquisas no campo da genética.
Clique aqui para ampliar. Fonte: Pesquisa Fapesp, Junho/2010 |
Qual a importância disso?
Ok, ele criou uma nova bactéria mudando duas características. Mas pra que raios isso serve?
A primeira vista, ver U$40 milhões de dólares, quase 270mil Xbox360 novinhos, jogados fora para criar uma célula de doença de cabra modificada não parece muito inteligente, certo? Mas toda essa grana tem um porque de ser gasta. A J. Craig Venter Institute e a Synthetic Genomics, empresa que financia o estudo, querem usar esses “organismos artificiais” na criação de algas que sejam capazes de capturar dióxido de carbono do ar e produzir hidrocarbonetos para combustíveis. Ou seja, transformar o abundante CO2 da atmosfera em uma fonte quase ilimitada de combustível. Lucrativo não?
Não é por acaso que a mesma Synthetic Genomics tem um acordo de US$ 600 milhões com a gigante petrolífera americana ExxonMobil para produzir biocombustíveis com algas. Mas as aplicações desta experiência não para por aí. Será possível desenvolver organismos geneticamente modificados para realizar funções específicas, como digerir manchas de petróleo do mar e criar novas vacinas
Venter Criador? Polêmica ética e religiosa. |
Como se não bastasse esse dilema moral, aquele velho debate da bioética sobre cientistas brincando de 'Deus' entrou em ação. Nesse caso o bate-boca transcende a discussão darwinismo ateu versus criacionismo bíblico. Seria um cientista capaz de criar vida? E se no futuro fizerem o mesmo só que com o genoma humano?Tanta é a polêmica que logo após a descoberta, Barack Obama (que dois anos antes havia premiado o cientista) se manifestou pedindo que a comissão de bioética da Casa Branca estudasse o assunto, dizendo que ele trás preocupações, mesmo sem divulgar quais seriam elas. Mais cautelosa, porém igualmente preocupada, foi a declaração do Vaticano. "Se for usada para o bem, para tratar patologias, só podemos ser a favor. Se mostrar-se inútil para a dignidade da pessoa, então nosso julgamento mudará ", disse o monsenhor Rino Fisichella, que é a principal autoridade em bioética do Vaticano.
Além dos dilemas éticos e religiosos que essa polêmica pesquisa gerou, alguns questionamentos sobre patente científica geram debates ao redor do mundo. Carig Venter, que foi extremamente criticado por cobrar pelo acesso ao código do genoma humano quando seu instituto sequenciou em 2001, pretente instituir uma patente sobre uma série de técnicas empregadas no desenvolvimento do organismo.
Em entrevista à BBC, o professor John Sulston, Nobel de medicina de 2002, afirmou que a concessão da patente seria "extremamente prejudicial", dizendo que essas medidas colocariam em monopólio ao instituto de Venter o futuro da engenharia genética. Essas medidas, segundo ele, inibiriam importantes pesquisas científicas. Essa polêmica se deve muito pelo interesse econômico que o instituto de Venter coloca sobre as descobertas. O temor é que a cobrança pelo acesso ao genoma humano se repita neste caso.
Não é por acaso que, diante de tanta polêmica, Craig Venter ganhou o curioso apelido de Darth Venter. O ícone do Lado Negro da Força do universo de Star Wars ganha um representante no universo científico.
A Vida de Darth Venter
Além dos dilemas éticos e religiosos que essa polêmica pesquisa gerou, alguns questionamentos sobre patente científica geram debates ao redor do mundo. Carig Venter, que foi extremamente criticado por cobrar pelo acesso ao código do genoma humano quando seu instituto sequenciou em 2001, pretente instituir uma patente sobre uma série de técnicas empregadas no desenvolvimento do organismo.
Em entrevista à BBC, o professor John Sulston, Nobel de medicina de 2002, afirmou que a concessão da patente seria "extremamente prejudicial", dizendo que essas medidas colocariam em monopólio ao instituto de Venter o futuro da engenharia genética. Essas medidas, segundo ele, inibiriam importantes pesquisas científicas. Essa polêmica se deve muito pelo interesse econômico que o instituto de Venter coloca sobre as descobertas. O temor é que a cobrança pelo acesso ao genoma humano se repita neste caso.
Não é por acaso que, diante de tanta polêmica, Craig Venter ganhou o curioso apelido de Darth Venter. O ícone do Lado Negro da Força do universo de Star Wars ganha um representante no universo científico.
Darth Venter: polêmico e megalomaníaco |
Se você é um jovem com prazer e fascínio pela ciência com péssimas notas na escola crie vergonha e vá estudar, não desanime. O homem que criou a primeira célula sintética do mundo e sequenciou o genoma teve notas tão ruins na adolescência que quase não completou o segundo grau. Por isso decidiu se alistar ao exécito americano e foi nos campos de batalha do Vietnã - lugar mais inesperado para se apaixonar pela ciência - que Venter descobriu ser fascínio. Enquanto ele via enfermeiros e médicos salvando vidas, sua paixão pela bioquímica surgiu. Ao final da guerra, Venter ingressou na Universidade da Califórnia em San Diego, se pós graduando no mesmo instituto, até trabalhar no Instituto Nacional de Saúde em Washington, onde uma revolução acontecia: os cientistas começavam a decifrar o DNA.
No começo do Século XXI, Craig e outro pesquisador do mesmo instituto, conseguiram mapear toda a sequencia genética humana três anos antes da meta do governo americano.
Sem vergonha de se autopromover, criando até um instituto em seu nome, Vader Venter decifrou outro código talvez mais importante que o primeiro: o financeiro. Com muita sabedoria, Carig conseguiu captar centenas de milhões de dólares do governo e da iniciativa privada para seu instituto, que está entre os mais bem equipados do mundo.
Milionário, não esconde que divide sua paixão pela ciência com a por grandes barcos, festas e viagens. Um digno superstar da ciência, que inspira e amedronta muitas pessoas, assim como certo cavaleiro de armadura negra que viveu há muito tempo atrás em uma galáxia muito, muito distante. Ao invés de armadura e sabre de luz, provetas e jaleco.
Para Saber Mais
[+]Artigo da Revista Fapesp sobre a pesquisa de Venter
[+] Vídeo do Anúncio e explicação do Instituto Craig Venter sobre a criação (em inglês)