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Company of Heroes: O Filme - Pizza





Adaptações de videogames para o cinema geralmente são algo, em sua essência, muito errados – e, se formos pensar bem, o caminho inverso não é assim tão diferente. Várias tentativas foram propostas, desde jogos de tiro como Doom, terror como Silent Hill e luta como Street Fighter, o perfil de jogo que vira filme parece ser sempre o mesmo: algum clássico cheio de ação que pode fazer sucesso, senão pela qualidade, pelo nome que leva no título. Mas uma coisa que nenhum gamer que se presta poderia achar provável seria um filme baseado em alguma franquia obscura de estratégia.

Disse bem, poderia.

Viu qualquer semelhança com um RTS? Pois é, nem eu.
Qual não foi minha surpresa ao descobrir que resolveram fazer justamente isso: um filme licenciado de um jogo RTS “lado B”. E nem estou falando de nenhum jogo de fantasia, tipo Might & Magic, que faria sentido comprar a licença da história. Estou falando é de um filme de uma das franquias da falida THQ, Company of Heroes.

Mas daí você me pergunta: “mas Company of Heroes é sobre a Segunda Guerra. Porque comprar a licença do jogo pra produzir um filme de Segunda Guerra.” É, então. Eu também não faço a menor ideia de como responder essa pergunta. Mas uma mistura de um gênero que eu adoro – filmes de guerra – com um que eu não suporto – jogos RTS – só poderiam dar uma boa mistura, só que não.

E, como era de se esperar, não ficou bom mesmo.

Company of Heroes (em português, Company of Heroes – O Filme, para não perder tempo em tentar esconder que não se trata de apenas uma coincidência) foi lançado direto para DVD em 26 de fevereiro de 2013 – ou seja, hoje – é uma obra do “aclamado” diretor Don Michael Paul que, entre seus principais trabalhos no cinema, estão um papel como coadjuvante sem falas em A Ilha e a coprodução do clássico do gênero “porque foi mesmo que vocês fizeram esse filme?” Harley Davidson e Marlboro Man – Caçada Sem Tréguas. Só pelo curriculum do camarada já dá pra ver que podíamos esperar MUITO dele como diretor. Aliás, talvez esse histórico seja o que explica terem gasto uma parte do orçamento para comprar a licença sobre o nome do jogo: por que simplesmente fazer um filme de guerra ruim, se posso fazer um filme de guerra ruim baseado num videogame e jogar toda a culpa no videogame, falando que ele que não me dá base de história para um bom filme e que me vi obrigado a podar minha visão para satisfazer os jogadores? É a única explicação que eu tenho: uma desculpa brilhante que joga toda a culpa numa mídia que ainda sofre de preconceito e esconde a falta de talento do produtor.

Dois velhos e um novato contra todo o exército alemão? Molezinha!
Mas, como se poderia esperar, o filme não tem nada de mais, nem como filme de guerra, nem como adaptação de videogame. Aliás, talvez a única coisa que lembre videogames em todo ele seja o fato de os inimigos serem praticamente inúteis em combate, além da história rasa e clichê. O plot principal (e, sim, vou dar spoilers. E antes que venham reclamar: é uma adaptação de videogame dessas mais básicas e que não tem nada a ver. Tem certeza que vai fazer tanta diferença assim ter spoiler?) consiste de um pequeno grupo de soldados americanos no fim da guerra – já após o fatídico Dia D e num momento que os Aliados já avançavam quase sem problemas, tomando território atrás de território e já dando a Guerra por vencida –  que estão desempenhando uma missão extremamente simples de levar suplementos de uma base a outra através de terreno em que já não havia mais inimigos. Molezinha certo? Só que eles são atacados (quem podia esperar por essa, não é mesmo?) e, durante a fuga, acabam esbarrando – diria até mesmo que tropeçando – nos planos de uma arma ultra-secreta do governo alemão, que poderia mudar os rumos da guerra. Voltar correndo pra base e pedir reforços? Pra que, se um plano muito mais sensato é invadir o maior, mais secreto e mais protegido laboratório inimigo, com cerca de 5 homens, e salvar o mundo eles mesmos?

A história tem tudo que um horrível drama de guerra precisa: um herói jovem que sobe de recruta pra chefe fodão em poucas cenas, um bando de subordinados em fim de carreira, uma mocinha que aparece do nada no meio do filme e já vira peça importante da trama, um aliado duvidoso que é encontrado no meio da ação e um cientista maluco arrependido. Soma-se a isso um vilão que é um general alemão sádico totalmente copiado do personagem de Christopher Waltz em Bastardos Inglórios que você tem a receita de tudo aquilo que se pode esperar de Company of Heroes, ou seja, quase nada.

Sammael e sua versão "Escola de Atores Sylvester Stallone" de Hans Landa


Mas não podemos desconsiderar tudo do filme, já que há, ao menos, umaideia legal em sua trama: ao revelar que a grande arma secreta alemã seria uma bomba atômica, o filme brinca com um famoso boato (já que até hoje ninguém comprovou se essa história é mesmo verdade, e, se for, duvido que irão algum dia) de que, apesar dos esforços americanos e russos, quem primeiro aperfeiçoou a bomba atômica foram os alemães, e por isso que a primeira delas só foi usada em 1945, já que necessitou-se que os cientistas que conseguiram fazê-la funcionar no Reich fossem capturados e levados para os laboratórios americanos, para que pudessem passar para frente seus conhecimentos. Outro ponto positivo é o castde atores, que traz alguns nomes interessantes, como Richard Sammael, que ficou conhecido pelo papel do oficial que morre a pauladas de um taco de beisebol em Bastardos Inglórios, e Vinnie Jones, o ex-jogador de futebol que foi o famigerado Juggernaut – ou Fanático – em X-Men 3: O Confronto Final. Sammael, aliás, faz o vilão que imita – um tanto caricatamente ou, apenas, bem mal – o coronel Landa de Bastardos Inglórios, o que nos faz entender porque ele apanhou tanto no filme de Tarantino, e desejar que alguém de dois metros de altura apareça logo para matar aquele arremedo de vilão sádico que não bota medo nem no meu cachorro.

Juggernaut, é você meu velho?!
No geral, se considerarmos que é uma adaptação de videogame – e elas são conhecidas por terem criado um parâmetro de comparação cinematográfica tão baixo que dá até pena – Company of Heroes é bem divertido e, ainda que não deva ser nem de longe a sua primeira opção caso esteja com vontade de assistir algum filme de guerra, consegue divertir e prender o telespectador até o final sem fazê-lo querer vomitar – o que já é um ótimo elogio para o gênero. Recomendável para um sábado à tarde preguiçoso, quando a única outra opção for assistir o Caldeirão do Huck.

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