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Quadrinhos, homossexualidade e polêmicas (des)necessárias


Há vários dias na imprensa saiu a imagem do x-men Wolverine beijando Hércules em uma HQ da Marvel Comics. Logo, todo o facebook, portais de notícias e sites que abordam o mundo dos quadrinhos (ou não) aqui do Brasil publicaram notícias, opiniões e criaram certo circo em torno do acontecimento.

Para quem ainda não está ligado no caso, o fatídico beijo acontece na edição #10 de “X-MEN X-TREME”. A cena se passa na Grécia Antiga em uma realidade alternativa. Tão alternativa que o Wolverine por lá é chamado de coronel James Howlett (seu verdadeiro nome). Ou seja, esse não é exatamente o Wolverine “oficial” que você provavelmente conhece, ele é uma outra versão, sacou?

Para quem tem uma memória decente, é fácil se lembrar de uma polêmica um pouco maior, que aconteceu no ano passado envolvendo o personagem Alan Scott, o Lanterna Verde (um de vários, sejamos claros e não o Ryan Reynolds), da DC Comics. Houve também o casamento do personagem Estrela Polar, da Marvel, com seu namorado Kyle Jinadu. Aqui vale ressaltar que Estrela Polar já era gay assumido desde a década de 1990.

Foi uma longa, e até proveitosa, discussão acerca de uma possível quebra de estereótipos nos quadrinhos (que são cheios deles). Muita gente deu opiniões muito boas e muita gente...não, como sempre. A exemplo disso temos esta pérola, que foi exibida no Fantástico ano passado. Assista e "do the facepalm" você também.




Mó galera concorda 
Esse pseudo-jornalismo, pra não dizer coisa pior, enfureceu muita gente. As gafes começam pela trilha sonora e texto debochado, a falta de apuração decente (que levou ao erro de colocar imagens de Hal Jordan, interpretado por Ryan Reynolds na adaptação cinematográfica, no lugar de Alan Scott) e por aí vai.

A questão aqui é: já passamos por essa discussão antes. Será que é necessário tanto barulho? Ok, o Wolverine é um personagem amplamente conhecido, principalmente depois das adaptações para o cinema, tido como um “símbolo de masculinidade” (ele anda de moto, é marrento, fuma charuto, pegou um monte de x-men-gatinhas etc, etc) e “mudar” sua orientação sexual, mesmo que em um universo paralelo, pode ser um pouco atordoante. Mas vá lá, você pode viver com isso, né? NÉ?!

O grande debate sobre personagens homossexuais tendo mais espaço nos quadrinhos já foi feito, apesar de ser saudável manter a discussão aberta a novas situações. Mas o que eu vi até agora sobre o assunto foram opiniões vazias, ou pior, opiniões cheias de preconceito, disfarçado ou não. Onde está o debate e a troca de informações e opiniões realmente relevantes?

Além disso, como que para confirmar a falta de importância da polêmica, os principais sites de quadrinhos aqui do Brasil não ficaram feito mosca no lixo acerca do assunto. Noticiaram e ponto. E isso já quer dizer muita coisa.

O que bastante gente também não sabe (ou não quer saber mesmo) é que a coisa vem de antes do Wolverine, de antes do Lanterna Verde e que não envolve apenas personagens masculinos, mas também femininos.



A bonitona acima é a batwoman Kate Kane (não confunda com Kathy Kane criada nos anos 1950), assumidamente lésbica desde sua criação em 2006. A personagem já ganhou prêmios importantes, incluindo um prêmio da GLAAD (Gay & Lesbian Alliance Against Defamation). Isso pouca gente fala por aqui. O que me leva a crer que muitas das notícias não estão interessadas nas novidades da indústria dos quadrinhos ou em um debate saudável sobre a aceitação de personagens homossexuais e a quebra de estereótipos, e sim em falar que “fulano é gay”. Até porque, duas mulheres “se pegando” é algo visto como bonito, sensual e é aprovado e encorajado nos quadrinhos por uma massa de punheteiros por aí.

Veja bem, a DC tem tanto direito de fazer Kate se relacionar com mulheres na trama, quanto tem de fazer o mesmo com Alan Scott. O que quero apontar é: por que com ela não há notícias, postagens, status de facebook xingando a editora, e com Wolverine e os demais há?

Mais uma coisa!



Eu vi muitos argumentos falando “até onde a editora vai pra vender? Que absurdo”, “isso é só pra criar polêmica e vender mais”. Ok, argumento válido... Mas depende. Por que a galera não sai às ruas quando as editoras matam um personagem importante, só pra depois trazê-lo de volta com uma desculpa esfarrapada? Por que quando fazem reboots loucos e de qualidade duvidosa não se ouve alarde desse tanto de gente? Por quê? POR QUÊ?! Porque, na verdade, a maioria das pessoas não liga para a sede de vendas das editoras e suas decisões baseadas no dinheiro, mas sim para mudarem a orientação sexual de um personagem, seja em universo paralelo, universo principal, fanfiction rua, chuva, fazenda, casinha de sapê.

Vamos pensar nisso. Mas acima de tudo vamos tentar fazer algo melhor. Realmente ler as histórias antes de tirar conclusões, entender o contexto daquela história e personagem e dar uma chance à um novo modo de pensar e fazer quadrinhos.

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